A temperatura da água perto de Key Biscayne, ilha-barreira a leste de Miami, só tinha chegado a quase 32°C uma vez nesta semana. E, embora o mar da região do sul da Flórida estivesse um pouco mais fresco do que mostraram as recentes marcas recorde que assustaram os cientistas e ameaçaram a vida marinha, continuava excepcionalmente quente.
Mas, apesar disso, nesse trecho tranquilo da costa atlântica, ainda era um dia de verão, quando nada dá mais prazer do que um mergulho — mesmo que se tenha a impressão de cair em uma calda grossa e borbulhante, quase pegajosa.
“Eu gosto quente assim”, afirmou Niki Candela, de 20 anos, nascida e criada em Miami, minutos depois de o som alto da sirene alertar para a ocorrência de raios.
Das poucas pessoas que se encontravam na praia, praticamente deserta, já meio zonzas por causa do calor, quase ninguém reagiu.
O trecho, normalmente coberto de algas marinhas meio apodrecidas, estava limpo, não mais ameaçado pelo gigantesco tapete de sargaço que encolheu inesperadamente no golfo do México, em junho. As águas rasas e cristalinas tinham um tom verde-azulado e uma ondulação suave, sem nem um único vagalhão à vista.
Então que os ratos de praia, inabaláveis — os mesmos que adoram passar calor e odeiam o frio —, chegaram para se divertir.
“Nos EUA, não há nada mais parecido com o paraíso”, disse Lauren Humphreys, de 40 anos, que é inglesa, mas divide o tempo entre Miami e Los Angeles. Lá, ela prefere as caminhadas ao mergulho no Pacífico, que na terça (18) atingiu 22°C no píer de Santa Monica. “É a segunda vez que venho à praia hoje; já estive aqui mais cedo, para meditar. Há algo muito especial aqui; é muito tranquilo.”
Perto da costa da vizinha Virginia Key, as medições da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica mostraram que a temperatura da água chegou a 32,5°C na segunda (17), e a do ar, a 30,8°C; neste sábado (22), a marca oceânica bateu 33,6°C, confirmando o recorde.
A água no sul da Flórida fica sempre mais quente nesta época, mas este ano está sendo uma longa exceção, com seis marcas históricas nas imediações de Virginia Key só em julho. Na semana passada, a superfície do mar ultrapassou os 36°C em algumas áreas da baía da Flórida; a temperatura oceânica média de Miami em julho fica em 30°C.
Segundo Brian McNoldy, pesquisador da Universidade de Miami, o calor forte e constante na cidade resultou em 16 dias consecutivos de recordes, com as temperaturas acima dos 40°C.
O Serviço Nacional de Meteorologia prevê 43°C para domingo e, com isso, já emitiu o primeiro alerta de calor extremo para o condado de Miami-Dade.
Na praia, no dia seguinte, a areia escaldante era evitada a todo custo. “Vem falar comigo aqui para eu não queimar os pés”, pediu Eduardo Valades, de 51 anos, ao repórter, acenando em direção ao raso.
“A água está superquente, mas só quando você entra. Conforme vai se afastando, uns 50 metros, já fica mais fresquinha”, garantiu. “Adoro assim!”, completou sua mulher, Jennifer Valades, de 50 anos.
Há três anos, o casal saiu da Califórnia para se instalar em Key Biscayne, vilarejo exclusivo de 14 mil habitantes. “Aqui dá para ficar horas na água — se bem que ela fica mais gostosa, perfeita mesmo, no inverno, quando a temperatura fica entre 22°C e 23°C. Aliás, aqui é normalmente mais fresco do que no interior.”
Ela completou, anunciando que tinha visto, não fazia muito tempo, seis ou sete peixes-boi. Aproveitando a deixa, ele sacou do celular para mostrar o vídeo que fizera no mês anterior de um tubarão enorme se alimentando bem perto do litoral. “A gente vê um a cada três ou quatro dias”, explicou, parecendo pouco preocupado.
Nesta semana, os banhistas não estão nem se incomodando com toalha, já que não existe sensação de frio na saída da água. “O mar está parecendo uma banheira de hidromassagem!”, anunciou Sasha Mishenina, depois de um breve mergulho, aos dois amigos que estavam com ela e tinham se recusado a entrar.
Mesmo com tudo isso, um banho de mar rápido continua refrescante, porque há correntes de água mais fria passando por baixo de quando em vez e peixinhos nadando entre os pés das pessoas.
“Estou muito feliz porque disseram que teria sargaço! Mas fazia tempo que eu não via a praia tão limpa; uns dez anos, acho”, comentou Adriana Campuzano, referindo-se às previsões feitas para o verão, enquanto juntava as coisas para ir embora por causa da tempestade iminente.
Candela tinha ido à praia com três amigos. “A água está ótima, mas tão quente que você chega até a pensar se não é porque tem alguém fazendo xixi por perto”, filosofou.
Os quatro estenderam as toalhas nas espreguiçadeiras sob o guarda-sol, puseram uma música e ficaram ali, aproveitando o dia. “E não é que parece meio friozinho?”, anunciou Taylor Dutil, de 20 anos, também natural da Flórida. “É bom para variar”, respondeu Benny Perez, de 22 anos, natural de Chicago, onde o lago Michigan estava bem mais frio naquele dia.
A sirene tocou mais três vezes, indicando o fim da ameaça dos raios. Não caiu uma gota. O quarteto continuou na água, papeando e rindo.
Fonte: https://noticias.r7.com/internacional/no-verao-da-florida-a-temperatura-da-agua-do-mar-bate-recordes-23072023#/foto/9