A bactéria Streptococcus pyogenes, supostamente ligada à morte de três crianças em São João Del-Rei, a 188 km de Belo Horizonte, é transmitida pelo contato com secreções de pessoas infectadas, conforme explicam especialistas. A prefeitura enviou amostras de duas das vítimas para exames na Funed (Fundação Ezequiel Dias), que vai indicar se a infecção causou, de fato, os óbitos.
“As infecções são mais comuns na primavera e no verão. A transmissão é pelo contato próximo. As crianças podem ter transmissão entre elas, mais pelo convívio e pelas gotículas que saem da boca, que elas respiram e tossem”, detalhou o infectologista Adelino Melo.
O especialista ressalta que a bactéria é “bem comum”, principalmente entre crianças. Melo explica que parte da população tem a Streptococcus pyogenes sem desenvolver sintomas.
Dentre os principais sinais de contaminação estão dor de garganta e amidalite. O poder público orienta a busca por unidades de saúde nestes casos. A sugestão de Adelino Melo é que os contaminados evitem contato com outras pessoas.
“É uma infecção que tem tratamento. Precisa dar antibiótico para tratar essas crianças, mas geralmente a bactéria não tem complicações graves. A principal complicação é posterior à ocorrência de dor de garganta. A gente tem complicações reumatológicas, no que chamamos de febre reumática. O organismo acaba gerando uma reação imunológica que pode atingir as articulações e o coração. Outra complicação possível são alterações renais”, detalha o médico.
Questionado sobre as chances de relação da bactéria com a morte das crianças em São João Del-Rei, o infectologista disse que é preciso ter cautela.
“A gente precisa ter mais informações para definir de forma clara se estas mortes estão relacionadas a uma infecção grave de Streptococcus ou se ele é um fator de confusão. Existem várias bactérias potencialmente graves que fazem surtos escolares”, comentou.
Segundo o secretário de Saúde da cidade, os exames enviados para a Funed devem ser concluídos em 15 dias.
Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde informou que acompanha o caso. A pasta informou que vai treinar os médicos da cidade para sensibilizá-los sobre a detecção e tratamento dos casos suspeitos de infecção.
“A Secretaria de Estado de Saúde de Minas (SES-MG) informa que não há critérios que comprovem surto ou risco à saúde da população de São João Del Rei, bem como nenhuma evidência epidemiológica que justifique a alteração na rotina das atividades”, ressaltou.
“Em casos de sintomas como febre, garganta inflamada, entre outros, a orientação é procurar uma Unidade Básica de Saúde para tratamento adequado”, completou a pasta em comunicado.
Histórico
De acordo com uma nota técnica da Prefeitura de São João Del-Rei, no último dia 24 de setembro foi registrada a primeira morte suspeita na cidade, na Santa Casa. Trata-se de uma criança de 10 anos. A declaração de óbito indica sepse por Streptococcus pyogenes. Não houve coleta de material para confirmação laboratorial.
Em 2 de outubro uma menina de 9 anos foi internada e passou por exame que detectou a mesma bactéria. O material foi enviado para Funed, que confirmou a contaminação. A criança ficou internada até o dia 18, teve alta e hoje está em casa.
No dia 08, foi registrada a segunda morte. A criança de 3 anos é de São João Del-Rei, mas morreu no estado do Maranhão. O resultado do exame de necropsia ainda não ficou pronto.
No último dia 23 de outubro, foi notificada a morte de uma menina de 10 anos. Ela deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e chegou a ser transferida para Santa Casa.
Segundo a prefeitura, ainda não existe confirmação laboratorial que ligue a bactéria às mortes das três crianças. Outras quatro crianças estão internadas com os mesmos sintomas. Elas são acompanhadas pela Vigilância em Saúde da cidade.
Mesmo assim, a prefeitura decidiu suspender as aulas a partir dessa quarta-feira (25), para fazer uma dedetização nas instituições de ensino do município. As atividades serão retomadas no dia 6 de novembro.
O município também anunciou a compra de 4.500 testes rápidos para detecção da bactéria e o reforço do número de médicos nas UPAs.
Fonte: https://noticias.r7.com/minas-gerais/secrecoes-e-saliva-entenda-a-transmissao-da-bacteria-que-estaria-ligada-as-mortes-de-criancas-em-mg-24102023