Quem nunca extrapolou o orçamento mensal que atire a primeira pedra. Em muitos casos, até aqueles que já estão acostumados a planejar as finanças do dia a dia acabam deixando passar algumas pequenas despesas, como um cafezinho na padaria ou o Uber de sexta-feira à noite. Apesar de aparentemente “inofensivos”, esses hábitos são responsáveis por aumentar consideravelmente os chamados “gastos invisíveis”.
De acordo com Bruna Allemann, economista e educadora financeira da fintech Acordo Certo, o termo corresponde a despesas – muitas vezes feitas por impulso – que ninguém percebe. “São os famosos ‘ladrões’ de dinheiro”, afirma. Segundo ela, o problema normalmente está atrelado à falta de visão a longo prazo, sendo mais vinculado ao prazer instantâneo gerado pelo gasto. “Uma compra parcelada que custa R$ 30 ao mês parece barata. Mas, se a pessoa tiver outras dez parcelas, o total será bem diferente”, lembra.
Outra característica importante do conceito é a superficialidade. Não raramente, os “gastos invisíveis” podem ser totalmente evitados ou ao menos reduzidos apenas com alguns ajustes na rotina. Para a educadora financeira Tamirys Machado, o primeiro passo para controlar esse tipo de despesa é identificá-las nos extratos bancários. “Costumo dizer que essa é a parte mais chata, pois será necessário analisar a movimentação dos últimos três meses das contas bancárias e cartões para encontrar onde estão os excessos”, diz. Em seguida, a especialista recomenda analisar a frequência do consumo para criar um planejamento que reverta o cenário. “Mas atenção: é mais fácil estabelecer limites aos gastos recorrentes do que, necessariamente, ficar anotando-os em planilhas. Só isso não resolve nada, é preciso mudar o comportamento”, afirma.
Por outro lado, se não controlados, os “gastos invisíveis” podem colaborar – e muito – para que as contas fechem no vermelho no fim do mês. “A preguiça de negociar ou mapear os custos faz com que esse dinheiro seja ‘comido’ por gastos sem relevância”, completa Bruna. A economista ainda destaca que alguns perfis de consumidores acabam sendo mais vulneráveis a esse tipo de despesa. “O consumista normalmente dá um jeito de fazer as coisas caberem no bolso, usando descontos e parcelas como desculpa para gastar”, diz. “Mas também temos aquelas pessoas que, embora não tenham dinheiro sobrando, fazem questão de ter aquela despesa por algum motivo, transformando pequenos hábitos em compromissos financeiros”, conclui.
Segundo cálculos feitos pela Elas Que Lucrem, quando somados, os principais tipos de gastos invisíveis indicados pelas especialistas podem somar mais de R$ 15.500 ao ano. Veja, a seguir, como isso acontece:
Cafezinhos fora de casa
Após um aumento de 122% no preço do café em estabelecimentos da capital paulista, segundo Pesquisa da Proteste Associação de Consumidores, o expresso passou a ocupar uma fatia ainda mais relevante do orçamento mensal. Uma visita diária à lanchonete de segunda à sexta-feira pode custar cerca de R$ 160 por mês, se considerado o preço da xícara a R$ 8. No ano, a despesa somaria R$ 2.080.
‘Ofertas’ em supermercados
Dados levantados pela fintech Superdigital mostram que 36% do consumo das classes C e D se concentram em supermercados. De acordo com as especialistas, uma fatia significativa desse total acaba sendo preenchida por compras por impulso de itens em ofertas e supérfluos. Na prática, bastam R$ 10 extras na lista semanal do supermercado para que a despesa some R$ 520 ao final de um ano.
Aplicativos de transporte ou delivery
Recorrer à praticidade de aplicativos é o tipo de “mimo” concedido com certa frequência no dia a dia – embora nem sempre os gastos com as plataformas sejam contabilizados nas despesas de transporte e alimentação. Segundo levantamento do aplicativo de gestão financeira GuiaBolso, o brasileiro gasta, em média, R$ 156,34 por mês com apps de transporte, como Uber e 99Taxi, e R$ 126,31 com delivery, como iFood. Anualmente, o consumo das plataformas totaliza aproximadamente R$ 3.391,80.
Multas por atraso de pagamento
Em cartões de crédito, as multas por atraso de faturas chegam a 2%. Assim, considerando um boleto de R$ 1.000, por exemplo, o valor extra pode alcançar até R$ 20. Ao longo de um ano, apenas esse “esquecimento” terá custado R$ 240.
Pequenos gastos por impulso ou “comprinhas aleatórias”
Cerca de um terço de todos os consumidores do mundo gastam, em média, R$ 150 com compras feitas por impulso todas as semanas, segundo estudo realizado pela Marketing Support e Leo J. Shapiro and Associates. Se o hábito persistir ao longo dos meses, o custo será alto: em um ano, o consumo “aleatório” sairá por R$ 7.800.
Passeios no shopping
Que o lazer costuma sair caro não é novidade. O problema, no entanto, são as despesas que acabam ignoradas no orçamento geral. De acordo com um levantamento promovido em fevereiro pela Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), o ticket médio de um passeio em um centro comercial desse tipo é de R$ 118,44. Considerando uma visita mensal, os gastos anuais somam R$ 1.421,28.
Jogos de azar, rifas e loterias
No último mês, 324.974.681 apostas foram cadastradas no sistema da Mega-Sena, somando uma arrecadação de R$ 1.462.386.064,50. Para aqueles que não abrem mão da “fézinha” em loterias e outros tipos de jogos de azar, os custos podem chegar a R$ 10,08 por mês, ou seja, R$ 120,96 ano ano, conforme análise feita pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).
Fonte: Terra