Com o aumento do número de casos de esporotricose, uma doença transmitida por gatos para humanos, vários estados, como Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Paraíba, Rio de Janeiro e Rondônia, incluíram a enfermidade na lista de doenças de notificação compulsória. Isso significa que se tornou obrigatório comunicar suspeitas ou confirmações da condição às autoridades de saúde nessas regiões do Brasil.
Procurado pelo RPet, o Ministério da Saúde afirma, porém, que esta micose subcutânea, causada pelo fungo Sporothrix, não faz parte da lista de notificações imediatas do governo federal. O órgão ainda esclarece que realizou campanhas de conscientização sobre a doença em maio e agosto deste ano.
O infectologista e professor do Departamento de Saúde Coletiva da UFPR, Flávio Telles, destaca a situação em expansão no Brasil envolvendo gatos e aponta as razões. “Embora o Ministério da Saúde ofereça tratamento gratuito para pacientes humanos em todos os estados, o tratamento gratuito para felinos é limitado a alguns lugares”, lamenta.
“Não existem perspectivas de vacinas, é difícil controlar a população de gatos, e falta conscientização e educação à população sobre o assunto”, completa.
Saúde Pública
Rodrigo Prazeres, veterinário e especialista em medicina felina do Hospital 4Cats, afirma que a doença já se tornou um problema de saúde pública. “Há um grande número de animais abandonados e doentes circulando em áreas urbanas e rurais, além de gatos doentes sem diagnóstico ou tratamento adequado”, declara.
Telles ainda faz uma importante ressalva. “A mensagem final é que os gatos não são culpados pela doença, mas, sim, vítimas que precisam de cuidado e apoio”, diz.
Transmissão
Prazeres explica que a esporotricose é frequentemente transmitida por meio do contato com solo contaminado, plantas em decomposição ou material orgânico, entre outros fatores.
“Quando um gato entra em contato com o fungo, geralmente por meio de feridas na pele ou arranhões por materiais contaminados, como troncos e espinhos de plantas, ou outros gatos infectados, a infecção pode se desenvolver”, comenta.
No que diz respeito ao risco zoonótico, ou seja, a possibilidade de transmissão da doença dos animais para os seres humanos, o médico destaca que a enfermidade pode ser transmitida por gatos por meio de arranhões ou mordidas.
Nesse contexto, Telles lembra que os “veterinários fazem parte do grupo de risco”. “Profissionais devem utilizar máscaras, luvas e roupas de proteção ao lidar com animais doentes”, aconselha.
Victória Pereira Cavalcante, veterinária e especialista em felinos da The Cat Doctor, menciona que brigas entre gatos também podem ser um fator de transmissão.
Prevenção e tratamento
Os especialistas enfatizam a necessidade de conscientização para prevenir que os animais contraiam a doença. “Evitar que o gato tenha contato com solo contaminado e com outros felinos doentes é essencial. É melhor evitar que ele tenha um estilo de vida ‘ao ar livre'”, sugere Fernando Lopes, adestrador e comportamentalista de animais.
Victória recomenda a esterilização de animais domésticos para prevenir brigas e destaca um ponto de atenção aos tutores: “Não toque na ferida da esporotricose. Se o gato quiser deitar em algum lugar, coloque um pano e, em seguida, lave-o. Evite o contato com a secreção, e se ocorrer, lave as mãos o mais rápido possível.”
Os especialistas explicam que o tratamento é realizado com antifúngicos sistêmicos, prescritos por um veterinário. “Além disso, é necessário um acompanhamento rigoroso do paciente para avaliar a resposta terapêutica”, destaca Prazeres.
Fonte: https://rpet.r7.com/esporotricose-casos-aumentam-em-felinos-e-especialistas-se-preocupam-com-os-gatos-entenda-19102023