O dólar prosseguiu em queda nesta terça-feira (22), no terceiro pregão seguido de baixa e para mínimas em quase oito meses, com a moeda chegando a operar na casa de R$ 5,04 à medida que investidores globais voltaram a privilegiar divisas de juros mais elevados e atreladas às commodities.
O mercado ainda teve fôlego para derrubar o dólar a novas mínimas já no fim da sessão, conforme os ativos externos melhoraram de sinal em meio a declarações do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre tensões geopolíticas em torno de Rússia, Ucrânia e Ocidente.
O dólar à vista fechou em queda de 1,08%, a R$ 5,051 na venda. É o menor valor desde 1º de julho do ano passado (R$ 5,0447). A cotação variou no dia de R$ 5,109 (+0,06%) a R$ 5,0445 (-1,20%).
Pelo gráfico, patamares em torno de R$ 5,04 (mínima intradiária do fim de julho de 2021) e entre R$ 4,95 e R$ 5 seriam importantes suportes a ser rompidos neste momento.
Em fevereiro, o dólar recua 4,80%, intensificando a queda em 2022 para 9,37%. O real tem o melhor desempenho no mês e no ano entre as principais moedas.
O dólar perdeu terreno nesta terça-feira também em outros mercados, como Chile, Colômbia e África do Sul, todos países exportadores de matérias-primas, que estão em rali em meio a uma combinação de restrições ainda relacionadas à pandemia e tensões geopolíticas.
Quanto mais altos os preços das commodities, mais dinheiro tende a ingressar nos países que as exportam, aumentando, assim, a oferta de moeda estrangeira, o que joga a favor de um dólar mais baixo.
Até o rublo russo se recuperou nesta terça-feira, marcando alta de 1,9% no fim da tarde, depois de sofrer vendas devido ao acirramento dos ânimos entre Rússia, Ucrânia e o Ocidente.
Por ora, a crise geopolítica não alterou a dinâmica de rotação de fluxos para mercados emergentes, onde no momento investidores veem avaliações mais atrativas.
O Brasil tem sido destaque na rotação global de fluxos, mas o vizinho Chile, que também ostenta juro mais alto e se beneficia de preços mais altos de commodities, está entre os mercados atraentes do momento. O peso chileno apreciava 0,7% nesta sessão e saltava 7,6%, o segundo melhor desempenho global, perdendo apenas para a moeda brasileira.
A preferência por mercados específicos é explicada por uma série de fatores. Em linhas gerais, a Índia por algumas contas estaria esticada, a rúpia perde 0,3% ante o dólar no ano, enquanto na China há temores de aperto regulatório, apenas para citar alguns exemplos.
“É direcionar fluxo para onde tem mais oportunidades de ganho”, comentou um profissional da área de câmbio de um banco estrangeiro. “Isso é trivial: se o juro cobre o risco cambial que internaliza o diferencial de inflação, vale a pena, no caso, commodities em alta e oportunidades em juros para quem tem ‘hedge’ [proteção]”, acrescentou.
Em evento nesta terça, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, referendou essa narrativa ao dizer que a taxa de câmbio brasileira tem sido amparada por uma combinação entre juro mais alto, surpresa benigna do lado fiscal e rotação de ativos, a qual tem gerado entre investidores a percepção de que é “importante entrar agora”.
Ele lembrou que as compras de dólares feitas no ano passado por investidores para adequação a uma mudança nas regras de tributação do overhedge também deixaram de pesar sobre o real.
O noticiário político-econômico de Brasília serviu de pano de fundo positivo ao mercado cambial nesta sessão.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta terça-feira que o Congresso vai tentar manter um ritmo de votações neste ano, apesar das eleições, mas não fará nenhum movimento que possa trazer instabilidade econômica, mexer com teto de gastos ou afetar a taxa de câmbio ou o crescimento do país.
Ele afirmou ainda que as propostas de emenda à Constituição (PECs) que mexem com a tributação dos combustíveis estão descartadas no momento e o Congresso vai se concentrar na aprovação do PLP 110, que está no Senado.
Fonte: Reuters / R7