Juntar o dinheiro para comprar um carro ou ter crédito para financiar não é a única conta a se fazer ao decidir ter um automóvel na garagem. Um veículo demanda gastos indispensáveis, como documentação, combustível, manutenção, seguros, entre outros. A realidade é que o brasileiro desembolsa mais de R$ 2,2 mil por mês só para ir de casa para o trabalho com um carro próprio.
Existem dois perfis entre as pessoas que abrem mão do carro por causa das despesas: os que não têm condições de arcar e os que têm, mas preferem direcionar esse dinheiro para outras áreas, como investimento, moradia ou lazer.
Para o segundo grupo, o planejador financeiro Raphael Carneiro explica que não há como negar que ter carro pesa no bolso, mas antes de pensar “vou vender e andar de Uber”, é preciso ponderar alguns fatores.
“A matemática não se basta sozinha. Uma economia só faz sentido quando não atrapalha o bem-estar, quando passa a ser um problema, deixa de ser economia e passa a ser um custo, mesmo que não-material. É preciso pensar se seria um sofrimento deixar de ter um carro na garagem. Para alguns, andar de Uber ou outro transporte compartilhado é ótimo, para outros, um tormento”, avalia o especialista.
Vamos às contas
Para aferir quanto custa, de fato, manter um carro no Brasil, fizemos a conta considerando um Hyundai HB20, carro de passeio zero-quilômetro mais vendido no Brasil em 2021. A versão mais barata do hatch custa R$ 74.590, o que resulta em um IPVA de R$ 2.983,60, ou seja, 4% do valor da Tabela Fipe. Na descrição de gastos, é necessário incluir um seguro automotivo na faixa de R$ 4 mil de acordo com simulação feita no Youse, escolhendo a opção mais completa com cobertura contra colisões e danos a terceiros.
Também estamos considerando uma pessoa que faz o uso razoável do carro, rodando, em média, 40 quilômetros por dia, ou 1.200 km por mês. Em um veículo que percorre 13,5 quilômetros com um litro de gasolina na cidade, como é o caso do HB20 1.0, o gasto mensal com combustível seria de R$ 594,90.
Há de se incluir nessa conta a manutenção. Nesse caso, estamos falando de um veículo zero-quilômetro, cuja primeira revisão custa R$ 284. Esse valor vai aumentando com o passar do tempo, pois serão necessários mais serviços e substituições de peças. Além da manutenção programada, é importante prever uma verba para pequenos reparos, que pode ser direcionada para eventuais multas. Para isso, R$ 100 mensais é um valor razoável.
Para montar um cenário real, é importante lembrar de gastos “invisíveis”, que quase nunca entram na conta do motorista, como estacionamento (R$ 10 por dia) e lavagem (R$ 50 a cada 15 dias).
Somando todos essas despesas, chegamos ao montante de aproximadamente R$ 1,7 mil por mês, ou R$ 20.400 por ano – mas há mais.
Custos esquecidos
De acordo com o planejador financeiro Raphael Carneiro, é importante lembrar de dois quesitos que não são propriamente “gastos”, mas não deixam de ser “custos”: a depreciação do veículo e o custo de oportunidade, ou seja, o que se perde ao deixar imobilizar o dinheiro em um passivo, e não em um investimento, por exemplo.
A estimativa de especialistas é que os veículos percam, em média, 8% do valor por ano, nesse caso, R$ 5.967,20. Já o custo de oportunidade de não investir os R$ 26.367,20 reais anuais empregados na manutenção do veículo fica em torno de 3%, segundo Carneiro, ou seja, R$ 791.
Desta forma, chegamos à conta de um custo anual de R$ 27.158 ou mensal de R$ 2.263 por mês. Lembrando que, nessa conta, não estão inclusos os valores empregados na compra do veículo ou as despesas com o financiamento.
Fonte: Uol