A educação formal ainda faz a diferença no nível salarial do trabalhador brasileiro, como mostra o levantamento feito por Janaína Feijó, doutora em economia e pesquisadora do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). Ela observou que os maiores salários são pagos a quem estuda por mais tempo, como o médico especialista, que ganha R$ 18.475, em média, na iniciativa privada.
Só na faculdade de medicina, são seis anos de estudos. Depois, para a especialização, é preciso dedicar, no mínimo, mais dois anos. Contados os três anos do ensino médio e os nove do fundamental, são 20 anos de estudo formal, mas isso não quer dizer que a aprendizagem acaba aí. O médico nunca para de estudar, porque tem de se manter sempre atualizado — assim como muitos outros profissionais.
A educação favorece todas as áreas. O levantamento, que tem como base microdados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), referentes ao segundo trimestre 2023, mostra que as pessoas que concluíram o ensino superior ganham, em média, quatro vezes mais do que quem tem menos de um ano de estudo.
Os brasileiros que têm ensino superior completo também ganham, em média, 2,5 vezes mais do os que têm ensino médio incompleto e duas vezes mais do que aqueles que não completaram o ensino superior.
No período analisado, apenas 23% da população ocupada no país, menos de um quarto, tinha esse nível de instrução — índice superior ao de dez anos atrás, que ficava em torno de 14%. Dos 98,8 milhões de trabalhadores em atividade no segundo trimestre deste ano, cerca de 76 milhões (77%) não tinham ensino superior. Portanto, a maioria dos brasileiros não tem acesso às ocupações com as remunerações mais altas.
“Há uma relação inversa entre desemprego e nível de instrução […]. Ou seja, quanto maior o grau de escolaridade de uma pessoa, menores são as chances de ela permanecer desempregada”, diz Janaína Feijó, no relatório do estudo.
Os dados mostram que, entre as pessoas que têm ensino superior completo, apenas 3,8% estavam desempregadas no segundo trimestre; já entre aquelas que tinham finalizado o ensino médio, essa taxa era de 9,2%. Das que não completaram o ensino médio, 13,6% estavam sem emprego no período.
Áreas mais valorizadas
Segundo a pesquisadora, a pandemia de Covid-19 acelerou as transformações tecnológicas que estavam em curso, aumentando a demanda por trabalhadores com conhecimentos nas áreas STEM (da sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemáticas). Também houve uma maior valorização das habilidades socioemocionais, ela afirma.
Sobre as ocupações do país mais bem pagas no segundo trimestre de 2023, Janaína Feijó organizou os dados a partir dos critérios: profissionais das ciências ou intelectuais com ensino superior e que trabalham no setor privado. Os cinco maiores salários são os de:
• médicos especialistas – R$ 18.475;
• matemáticos, atuários e estatísticas – R$ 16.568;
• médicos generalistas – R$ 11.022;
• geólogos e geofísicos – R$ 10.011; e
• engenheiros mecânicos – R$ 9.881.
Apesar de estarem no topo das ocupações com os maiores salários, essas cinco profissões apresentaram perda no rendimento médio real na última década. Na comparação com o segundo trimestre de 2012, apenas a segunda colocada, a carreira de matemáticos, atuários e estatísticas, teve crescimento da remuneração, de 50%.
Também foi feito o levantamento das ocupações que tiveram as menores remunerações na iniciativa privada entre os trabalhadores com ensino superior completo. As dez menos valorizadas são:
• professor do ensino pré-escolar – R$ 2.285;
• outros profissionais de ensino – R$ 2.554;
• outros professores de artes – R$ 2.629;
• físicos e astrônomos – R$ 3.000;
• assistentes sociais – R$ 3.078;
• bibliotecários, documentaristas e afins – R$ 3.135;
• educadores para necessidades especiais – R$ 3.379 ;
• profissionais de relações públicas – R$ 3.426;
• fonoaudiólogos e logopedistas – R$ 3.485; e
• professor do ensino fundamental – R$ 3.554
Entre as ocupações com os menores salários, a maioria é de profissões na área do ensino, o que não surpreende. Nesse ranking, na comparação com o segundo trimestre de 2012, os educadores para necessidades especiais tiveram um aumento de 14% em sua remuneração média, o maior entre todos os trabalhos com os piores salários. Já a maior queda do período, de 45%, foi da renda de outros professores de artes.
Na última década, as ocupações ligadas à tecnologia tiveram uma importante valorização salarial, como pode ser visto abaixo:
• desenvolvedores de páginas de internet e multimídia – salário: R$ 6.075 – alta de 91%;
• desenvolvedores de programas e aplicativos – salário: R$ 9.210 – alta de 39%; e
• desenhistas e administradores de bases de dados – salário: R$ 7.301 – alta de 30%.
Fonte https://noticias.r7.com/economia/conheca-as-profissoes-que-garantem-os-maiores-e-os-menores-salarios-no-brasil-18102023