Esther Solomon, editora-chefe do Haaretz, jornal diário mais antigo de Israel, estava tentando observar o sábado judaico, no sábado (7), em Tel Aviv quando sua filha, membro da Força Aérea Israelense, trouxe algumas notícias alarmantes à sua atenção: Israel estava sob sério ataque do Hamas.
Solomon rapidamente percebeu que o ataque era muito mais grave do que a habitual rodada de lançamentos de foguetes na região, a que os israelenses se acostumaram. Ela entrou em ação, mobilizando rapidamente sua redação de cerca de 400 pessoas para começar a cobrir a história em rápido desenvolvimento.
“As notícias correram e depois estavam por todos os lados”, disse Solomon à CNN por telefone nesta segunda-feira (9), relembrando momentos iniciais do ataque.
Solomon disse que, embora a onda de ataques tenha pego todas as pessoas de surpresa, destruindo a celebração do feriado de Simchat Torá, a redação construiu recentemente, nos últimos meses, uma infraestrutura para cobrir os protestos pró-democracia que tomaram conta do país.
E que processos bem ensaiados permitiram que editores e repórteres se reunissem em grupos de WhatsApp e publicassem reportagens críticas em uma velocidade vertiginosa.
A redação do Haaretz também possui experiência em reportagens sobre zonas de conflito. “Não é como se tivéssemos que entender como é”, disse Solomon. “Vivemos nisso o tempo todo”.
E, no entanto, este conflito, que já custou a vida a mais de 900 israelenses e 600 palestinos, apresentou desafios únicos ao jornal, que publicou centenas de histórias nas últimas 72 horas, informando o público com informações “24 horas por dia”.
O maior desafio é manter os repórteres seguros enquanto fazem reportagens em um ambiente especialmente perigoso.
Solomon disse que seus repórteres destacados para ir a campo estão vestindo habituais capacetes de proteção e coletes para ajudar a proteger contra o bombardeio de mísseis e tiros que atingem Israel. Mas ela observou que a natureza imprevisível da guerra representa que a segurança simplesmente não pode ser garantida.
“Um jornalista do Haaretz apareceu outro dia em uma área onde os militantes estavam, e ele teve que sair correndo do carro e deitar no chão. Eles atiraram no carro dele”, disse Solomon. “Então você pode tomar precauções, mas o que você pode fazer de fato? Este é um momento extraordinariamente perigoso. Às vezes, não é intencional, você está na linha de fogo”.
A redação sediada em Tel Aviv também está lidando com o desenrolar da guerra em termos específicos. Solomon disse que não conhece “uma única pessoa que não tenha alguma ligação com alguém que é refém em Gaza agora”.
E é difícil, até mesmo para os jornalistas mais experientes, processar alguns dos horrores que foram forçados a testemunhar, disse ela.
“Mesmo sendo alguém que viu as fotos que não publicamos sobre ataques terroristas anteriores, tem sido quase insuportável”, disse Solomon sobre uma série de imagens vindas do campo de guerra, mostrando as atrocidades que o Hamas cometeu contra civis, acrescentando que “não há como você deixar de ver essas imagens”.
“Essas imagens são tão marcantes e tão difíceis de digerir e tão difíceis de entender”, continuou Solomon. “Você pode usar todo o léxico de adjetivos para tentar descrevê-las e não conseguirá”.
Outro desafio importante tem sido a incapacidade de reportar diretamente a partir de Gaza, dado que os jornalistas israelenses foram proibidos de entrar no território palestiniano desde que o Hamas subiu ao poder em 2006.
“Há um problema para obter informações confiáveis de Gaza, o que é, obviamente, extremamente importante porque haverá, e já há, perdas significativas de vidas e sofrimento”, disse Solomon. “E isso é parte da imagem que precisamos passar aos leitores”.
No passado, o Haaretz trabalhou com repórteres independentes em Gaza, que escreviam matérias sob pseudônimos. Mas Solomon disse que não acredita que as chances de fazer isso no momento sejam boas.
Para ela, isso é problema porque “não há cobertura completa de uma guerra a menos que se tenha acesso a informações confiáveis também sobre o lado palestiniano”.
Muitos dos desafios que o Haaretz encontrou nos últimos dias certamente também impactarão os jornalistas dos Estados Unidos e de todo o mundo, à medida que os veículos de imprensa enviam jornalsitas para a região.
A esses jornalistas visitantes, Solomon oferec alguns conselhos: “Tente, tanto quanto possível, contar o que estão passando as pessoas que realmente vivem aqui e que passaram pelo que aconteceu. Entendam as emoções muito cruas pelas quais elas vão passar”, disse ela. “Esta é uma experiência de horror ainda crua”.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/voce-esta-na-linha-de-fogo-como-e-ser-reporter-cobrindo-a-guerra-de-israel/