O R7 acompanhou na última semana uma live ministrada por Alexandre Jaloto, servidor do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que explica como é calculada a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com base na Teoria de Resposta ao Item.
A TRI é um conjunto de modelos matemáticos que busca representar a relação entre a probabilidade de o participante responder corretamente a uma questão, seu conhecimento na área em que está sendo avaliado e as características dos itens.
Sendo assim, essa teoria pressupõe que um aluno com um certo nível de proficiência tende a acertar os itens de nível de dificuldade menor do que o de sua área de domínio e errar aqueles com nível de dificuldade maior. Ou seja, o padrão de resposta do participante é considerado no cálculo do desempenho.
Por esses motivos, é praticamente impossível calcular a nota exata do Enem em casa, com base só no gabarito. Vale lembrar que faz parte desse cálculo ainda a redação.
“Por isso, o nosso esforço em ter rigor e qualidade técnica. Dessa forma, garantimos a isonomia entre os participantes”, ressalta Rubens Campos, diretor de avaliação da educação básica (Daeb) do Inep, em live que está disponível no canal do Inep no YouTube.
De acordo com Jaloto, a TRI considera a particularidade de cada item. Sendo assim, duas pessoas com a mesma quantidade de acertos são avaliadas de forma distinta, dependendo de quais itens estão certos e errados. Esses participantes podem, assim, ter notas diferentes.
Procurada pelo R7 para comentar o assunto, Lúcia Teixeira, presidente do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil, destaca que o uso da teoria de resposta ao item impede ou diminui a possibilidade de fraude no exame.
“É uma metodologia bastante importante e robusta, que permite aplicar um exame dessa magnitude. O Enem é uma das maiores provas aplicadas no mundo e um dos fatores que permite isso é o uso dessa teoria, de forma que existam provas com combinações diferentes sendo aplicadas em vários locais e, ao mesmo tempo, eliminando as distorções que esse tipo de exame gera. Por ser um vestibular, muitas vezes a sorte pode ajudar um aluno e o azar pode prejudicar outro”, diz Lúcia.
“É um sistema antichute, para tornar algo mais justo. Eu acertei uma questão que a maioria errou, então era mais difícil. Mas errei três que todo mundo acertou. Então eu não vou ter uma nota maior por isso, pois a TRI entende que eu chutei. Eu não sabia, eu tive sorte”, avalia Priscila Naves, coordenadora pedagógica do cursinho Aprova Total.
“Não tem como tirar mil em nenhuma das áreas. Se o aluno gabaritar, o que nunca ocorreu, ele não tira mil porque a nota é calculada com base nas provas das outras pessoas. Ele só consegue tirar mil na redação“, completa.
Edmilson Motta, coordenador do Curso Etapa, é outro especialista que destaca que a teoria de resposta ao item valoriza a coerência de acertos.
“Mesmo com a complexidade de adotar esse tipo de sistema, ele ainda é vantajoso, porque permite atribuir notas diferentes para um grande número de pessoas, como é o caso do Enem. No caso do uso da nota do exame para sistemas de seleção de universidades, a classificação dos candidatos para os cursos mais concorridos é decidida por diferenças mínimas de pontuação.”
Os parâmetros da TRI
A escala de cada questão é quem determina a probabilidade de participantes com proficiência igual ou maior do que a daquele nível de responderem corretamente àquelas que estão nesse nível e em níveis inferiores.
Questões pedagogicamente mais fáceis serão posicionadas na parte inferior da régua, e as pedagogicamente mais difíceis serão posicionadas na parte superior, bem como os candidatos.
Assim, a TRI qualifica o item de acordo com três parâmetros:
• Poder de discriminação, que é a capacidade de um item distinguir os estudantes que têm a proficiência requisitada daqueles quem não a têm
• Grau de dificuldade
• Possibilidade de acerto ao acaso (chute)
Logo, a teoria entende que:
• Se o aluno acertar questões fáceis e médias e errar as difíceis, significa que ele tem um conhecimento médio naquela área
• Se acertar as fáceis, as médias e as difíceis, provavelmente é muito bom naquela disciplina
• Mas, se errar as fáceis e as médias e acertar algumas difíceis, é grande a chance de ele ter chutado
Não é possível comparar o número de acertos em uma área do conhecimento com o de outra. Dessa forma, acertar 40 itens em uma área não significa, necessariamente, ter uma proficiência maior do que em outra, cujo número de acertos tenha sido 35.
O que é o Enem
O Exame Nacional do Ensino Médio avalia o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica.
Ao longo de mais de duas décadas de existência, o exame se tornou a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e de iniciativas como o Programa Universidade para Todos (Prouni).
Instituições de ensino públicas e privadas utilizam o Enem para selecionar estudantes. Os resultados são utilizados como critério de processos seletivos, além de servirem de parâmetro para acesso a auxílios governamentais, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Os resultados individuais do Enem também podem ser aproveitados nos processos seletivos de instituições portuguesas que possuem convênio com o Inep para aceitar as notas do exame.
Os acordos garantem acesso facilitado às notas dos estudantes brasileiros interessados em cursar a educação superior em Portugal.
Fonte: https://noticias.r7.com/educacao/teoria-antichute-saiba-como-funciona-o-calculo-que-da-a-nota-de-cada-candidato-no-enem-02072023